Páginas

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Quarto escuro

Ainda inspirada pela Martha Medeiros, já mencionei que estou lendo um dos seus livros de crônicas e me interessou uma em particular que colocava em pauta a divisão de quartos entre irmão. E quando falamos em dividir o quarto estamos falando em dividir uma parcela relevante da nossa vida, pois é lá que geralmente nos refugiamos, tomamos fôlego, nos entregamos ao choro, às risadas... Um pouco de tudo!

Eu nunca dividi o quarto com o meu irmão, para a minha tristeza, porque ao contrário da maioria das minhas amigas que se batiam em beliches nas suas casas, eu as invejava por estar sozinha no meu. Com certeza tendo um quarto só para mim tinha autoridade total para colocar um pôster dos “Menudos” na parede e deixar a casa da Barbie montada não provisoriamente, mas volta e meia pegava as minhas tralhas e bandeava para o quarto dele. Eu fazia uma bagunça geral... Usava naquela época as fitas cassetes para fazer de sofá das minhas bonecas e ainda pegava seus “Playmobil” para fazer de filhos das mesmas. É claro que quando ele chegava em casa eu arcava com as conseqüências da invasão.

Sem falar que eu morria de medo da madrugada. Como qualquer outra criança tinha pesadelos horríveis e como sempre fui noturna, custava a pegar no sono e ficava muito difícil manter os olhos fechados sem pensar em alguma bobagem. Parecia que sempre tinha alguém me observando... Eu recolhia o meu travesseiro e corria sorrateiramente para o quarto do meu mano. Montava uma cama de almofadas ao lado da sua e boa noite! Pela manhã era pisoteada, mas tudo bem... Melhor que ficar sozinha e com medo. Acho também que o grande atrativo chamado televisão me faziam optar pelo outro quarto. A não ser quando ele me fazia de controle remoto, aí eu me arrependia de ter entrado. Era impossível não se render aquele quarto. Além da televisão tinha som embutido na cabeceira. O meu quarto era todo rosa e quando falo em todo é todo mesmo. Minha cabeceira era um imenso coração almofadado rosa. O pior é que ainda curto a cor, mas claro que nas suas devidas proporções.

Depois de alguns anos torturando o meu irmão que se vingava das minhas bagunças enforcando as minhas bonecas no ventilador de teto, descobri que a solidão, que eu tanto evitava depois se tornou uma grande amiga, uma parceira nos percalços da adolescência. Não tinha nada melhor que fechar a porta do meu quarto, do meu templo rosa e viver o meu mundo, aquele mundo construído especialmente pra mim, do meu jeito, com as necessidades que me cabiam. Mais tarde ganhei uma televisão, usada, mas já vale... Depois um telefone, um som... Até que o meu irmão saiu de casa e seu quarto perdeu toda a graça. Obviamente anos depois herdei os móveis, os repaginei, é claro, mas ainda me recordo da sensação de proteção que tudo aquilo me representava.

Mais que a vontade de dividir um espaço, era a minha vontade de dividir o contato. Sempre fui a irmã caçula pentelha, que enchia o saco, mas que morria de orgulho do irmão mais velho. Poder estar com ele, naqueles momentos era especial e tenho certeza que também para ele. Sair do meu quarto escuro fez parte do meu crescer... Mas, o mais importante sempre foi encontrar a luz que só a companhia dele me proporcionava. Foi amontoada nas amolfadas que descobri que aquele cara seria mais que uma companhia para as noites de terror... Estaria ao meu lado pra sempre...

Bjus... Boa semana!!

2 comentários:

  1. Ja to chorando de novo tola..... Sempre adorei tua companhia comigo, claro que a função de controle remoto era ótima, mas confesso que sentir minha maninha comigo no meio da noite era motivo de orgulho... E não te preocupa, vou estar sempre aqui. "Para estar junto não precisa estar perto, e sim do lado de dentro." Te amo horroressss...

    ResponderExcluir
  2. Esse me fez chorar... (Tbm..) essa relação me traz saudade do que não tive, mas queria muito ter tido e que tivesse até sempre...Um amigo irmão é tudo. Parabéns.

    ResponderExcluir