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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Pouca FÉ

Eu escrevi algum tempo atrás quando meus pais foram assaltados num ônibus de viagem que o mundo era mau! E continuo achando isso... A violência social e econômica que vivemos faz com que perdemos nossa inocência e deixamos de ter fé... Pior do que deixar de acreditar nas coisas que nos cercam é deixar de acreditar nas pessoas... Estamos perdendo a nossa fé no ser humano por medo de sairmos machucados, logrados, violados.

Era quase 19h quando o interfone da minha casa tocou. Atendi e a voz do outro lado era de um homem pedindo comida. Ele me explicou que estava até agora na rua procurando emprego e uma assistente social deixaria na sua casa uma cesta básica para seus filhos, mas não apareceu. Então, ele resolveu bater na porta para pedir alguma comida. Ele me parecia sincero, sua voz não demonstrava mentira ou enganação, mas eu fiquei com medo de ir até o portão e ser atacada com uma arma apontada para a minha cabeça. Eu desliguei o interfone e fiquei triste por não ter ido alcançar para ele uma caixa de leite, pelo menos. Porém, todas as coisas que vemos na televisão e lemos nos jornais me fizeram recuar, mandá-lo embora sem nem olhar nos seus olhos.

Na saída do passeio de sábado, no Beto Carrero, já estava escuro, uma menina de uns doze anos acredito pegou no braço do Marcelo e pediu se podia usar o telefone para ligar para seu pai porque estava perdida. O Marcelo discou o número e lhe deu para falar. Naquela hora, soltei a mão da Mari e já estava preparada para sair correndo atrás dela caso ela fugisse com o celular. Ela falou com o amigo, marcou o ponto de encontro, nos agradeceu e partiu. Eu depois ri da minha imaginação e disse para o Marcelo: “Tá vendo... Desconfiei de uma menina”!

Sem percebermos estamos deixando que esse dia-a-dia cheio de imprevistos e transtornos nos engula e desenhe os nossos passos. Mais do que medrosos estamos ficando covardes. O receio da violência está acabando com as nossas virtudes e o nosso bom senso. Estamos deixando de ajudar para não correr o risco de perder... Já perdemos a noção do bem e do mau, estamos perdendo a nossa fé!

Todos esses acontecimentos me fizeram pensar a respeito e ainda tenho medo sim de colocar a minha cara a tapa e ser surpreendida pela violência, mas também preciso e precisamos acreditar que pessoas íntegras ainda existem. Ainda preciso achar uma solução para ajudar sem temer o risco, de resgatar a minha inocência sem cair na burrice. É difícil, o mundo continua mau, mas ainda precisamos seguir adiante e não nos conformarmos com as atitudes erradas. Seguimos em casa e no meio em que vivemos dando o exemplo do certo, do que vale a pena ser vivido, mas o mais importante é que ainda precisamos olhar nos olhos das pessoas e dar-lhes o direito da verdade.

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