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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Um trecho de Terra láaaaa na zona norte!


Faz pouco tempo que entrei para um grupo fechado no facebook de moradores e ex moradores de um bairro de Porto Alegre: O Parque dos Mayas! Toquei nesse assunto para pedir licença a todos que me acompanham por aqui, pois o post de hoje é dedicado a toda essa galera que fez e que continua fazendo história no PDM...

Eu fui morar no Parque, vamos tratá-lo assim, com um mês de idade. Meu pai, seu Dudu e a minha mãe, dona Bia, já pais do meu irmão Bernardo, que na época tinha sete anos, compraram a idéia de uns amigos vizinhos da antiga Estrada do Forte sobre um bairro novo; planejado ao estilo dos bairros americanos: Sem grades, somente o gramado verdinho em frente de casas geminadas ou não.

Com essa promessa de liberdade para os filhos meu pai vendeu tudo que tinha. Meteu-se num financiamento gigantesco e comprou a tão sonhada casa própria. É claro, que pela minha pouca idade na época não consigo lembrar da minha chegada, a não ser o que eu ouvia deles, á medida que fui crescendo. E assim como eu, assim como eu que chegara bebê, muitos outros chegaram ou nasceram também. Muitos já na idade do meu irmão, os chamados da primeira geração do parque, hoje com quase 40 anos ou mais.

Minha maior lembrança e mais preferida de toda a infância que desfrutei lá foi o poder ser criança. De andar de pés descalços na rua; brincar de esconde esconde até altas horas; andar de bicicleta; subir em árvores; soltar pipa; jogar amerelinha e ter amigos com quem dividir tudo isso. Foram dezoito anos de muitas alegrias... De muitas lembranças saudáveis e que, com certeza ajudaram a transformar a pessoa que sou hoje.

Porque para quem viveu lá, sabe de tudo isso que eu estou falando. De quem desfrutava em garagens aniversários inesquecíveis. Mesas recheadas de canudinhos de maionese ou "guisado", pizza, "negrinho" e refri de garrafa. Nas mesmas garagens que rolava na sexta ou sábado á noite a famosa dança da vassoura em reuniões dançantes embaladas pela voz rouca do Paulo Ricardo na sua RPM. Nos dias de sol uma rede de volei era aberta no meio da rua ou um jogo de taco que bombava tardes e mais tardes. Nos dias de chuva jogávamos "War" na varanda de alguém; as cinco marias; Banco Imobiliário, o Jogo da vida ou então respondíamos repetidos questionários.

Uma famosa feira de frutas e verduras estacionava numa praça central do bairro, em frente ao supermercado Rocha Bolzan, depois Poko Preço, que tinha como principal atração um ônibus transformado em fruteira. Era a sensção de todas as crianças. Não queríamos comer a fruta ou a leguminosa, mas queríamos adentrar aquele recinto quase mágico. Era lá também que uma Kombi e uma Rural vendiam dúzias e dúzias de ovos. Um pai, com seu filho caçula, ao invés de ficar somente na feira oferecendo seus ovos também percorria a pé as ruas do Parque. Muitas vezes a campanhia lá de casa era acionada e um "piá" escabelado segurando montantes de caixas de ovos tentava se aproximar. A minha mãe me dizia para não ir até a porta, podia ser um "maloqueiro" qualquer pedindo alguma coisa. Anos depois fui descobrir que esse "pivete", esse que vendia ovos na porta da minha casa havia se transformado no meu marido. Aprendi a lição... Julgar alguém? jamais!

Mas não era somente ovos que tínhamos a nossa disposição. Reza a lenda dessa geração mais antiga, a primeira, que um senhor, criador de vacas no munícipio de Alvorada, cidade que faz fronteira com o último bairro de Porto Alegre, vendia em uma Kombi também, leite fresquinho das suas crias. Eu não lembro de tal leite, mas acredito na lenda. O Parque sempre foi um local de histórias impressionantes, prova disso era um poste, em meio uma passarela que dava choques inexplicáveis. Quase um ponto turístico do lugar. Fazíamos fila e corrente de mãos para sentirmos o choque juntos... Ah, essas crianças!!! Além do leite, uma outra Kombi vendendo refrigerante, acho que o antigo "Baré cola" também transitava pelas ruas. Sem falar nos picolés de carrocinha, no sacolé de suco e nas batucadas de uma madeira anunciando a casquinha.

O Parque tinha um clube próprio, a ACOPAN. No verão, as piscinas eram invadidas por todos e enfrentávamos a carranca de um fiscal bem cuidadoso, seu Zé... Para ele a nossa única diversão era ficarmos imóveis dentro da piscina, todo o resto era proibido. Porém, não só as tardes de verão nos chamavam á associação. Famosos bailes gaúchos, jantares dançantes, desfiles de rainhas e princesas das piscinas, jogos de futebol e muito mais. Para dividir toda essa atenção somente o CTG Gildo de Freitas que também organizava muitos eventos sociais no bairro. A maioria dessas festas era fotografada pelo já falecido Vásques, o fotógrafo oficial do Parque. Tinha também o sapateiro "Seu Pedro", a lojinha da Rosa, o mini mercado Maringá e a creche Ursinho Pim Pom.

A maioria das crianças moradoras de lá passaram pelas escolas Poty Medeiros, CIEM, São Paulo e São Francisco. Muitas histórias e vínculos foram criados nesses lugares. Foi lá que dançavamos o "Ai bota aqui ai bota ali o seu pezinho" e comíamos o lanche em cumbucas azuis que não me esqueço jamais.

Minha mãe era catequista da capela Guadalupe, mas antes dela ser construída lembro-me que algumas missas eram realizadas na garagem de casa. Por muitos anos uma desbotada imagem de Jesus ficou pendurada lá na parede. A outra igreja era a Nossa Senhora de Fátima, onde ocorriam os famosos Encontros de Casais (ECC ).

Eu sempre me assombrei com a quantidade de vezes que ficávamos sem luz ou água. De tomar banho gelado no tanque ou então esquentar a água e levar a chaleira para o banheiro. Porém, quando a água era abundante adorávamos tomar banho de mangueira ou fazer guerra de bexiguinha. Hoje eu nem compro velas, mas naquela época elas tinham que estar sempre á mão. De noite, quando a luz acabava a gente se encontrava na rua para falar do acontecido. Nas noites de Natal e Ano Novo ficávamos ensurdecidos com os "rojões" e foguetes. Tínhamos nossa luz própria!

Nós parqueanos sempre fomos um pouco discriminados. Nosso bairro, por ser longe talvez não era muito conhecido pelo restante da cidade. Para chegarmos até o centro precisávamos encarar uma viagem de quase 1h. Ou você ia pela linha Parque dos Mayas, ou então pela Linha Parque dos Mayas Guapuruvu. Depois veio a linha Sertório e até ônibus direto pela Freeway. Hoje já tem lotação e linha especial para o Shopping, o B51. Quem diria...

O Parque infelizmente não conseguiu manter o planejamento inicial de ser um bairro nobre e planejado, mas conseguiu certamente ser um local de muita felicidade. Foi lá que construímos valores; aprendemos o certo e o errado; criamos amizades e amores. Foi lá, no Parque dos Mayas, que muitos sonhos começaram. Que muitos planos foram feitos e desfeitos. Que se brincava, cantava e pulava sem recriminação. Foi lá que nós crianças aprendemos o quanto a vida deve ser plena.

Lugares assim não podem ser esquecidos... Devem permanacer, além das nossas lembranças, guardados eternamente nos nossos corações. Lugares assim viram lendas! Não sei se ainda vai existir um trecho de terra com tantas histórias... Com tantas vidas que se cruzaram, se despediram ou que permaneceram em contato. A nossa única certeza é que nos anos 80 e 90, quando ouvíamos os Menudos, usávamos calça "bag" e tênis bamba... Ah, nesses anos fomos muito felizes lá!

Um beijo especial a todos os meus amigos parqueanos... A toda essa gente que está se reencontrando e dividindo hitórias... Tenho certeza que, além de muitas risadas, estamos compartilhando novamente a vida!

Até!

6 comentários:

  1. A história do leiteiro é real, pois várias vezes o atendi quando pequena!!! E o refrigerante vendido na kombi era a Fruki de garrafa de 600ml, a melhor do mundo!!! hahahahaahha

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  2. Tenho um carinho todo especial pelo Parque dos Maias...e ele é tudo isso e muito mais de bom na lembrança de quem teve bons momentos naquelas terras! Foi no PDM que fiz meu estágio de faculdade, aos 19 anos, na EMEF Jean Piaget...aprendi muito! Voltei a escola exatos dez anos depois para ser vice diretora de lá, amando cada momento, cada instante que acolhi e fui tão acolhida por uma comunidade sincera e trabalhadora. Foi com grande dor que sai da comunidade e da escola, por motivos profissionais, mas com a certeza de que todos os que dividiram comigo esse local, guarda-o com todo carinho no coração!

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  3. Sou morador do Parque a mais de 30 anos.Sou do tempo que não tinha nem onibus Parque dos Maias, tinhamos que pegar a linha Fatima e descer-mos a pé até o Parque.Tudo que contaste me fez lembrar como éramos felizes.Não tem como não encher os olhos de lagrimas lendo teu depoimento.

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  4. Sim, o cara do leite tinha um tambo, hoje em dia é onde fica o depósito de veículos (leiloeiro). Baita texto, me identifiquei com boa parte dos relatos. Abraços!!

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  5. Incrível! Viajei no tempo. Só tem uma única palavra na Língua Portuguesa que pode traduzir esse turbilhão de sentimentos: Surreal! Lembrar de pessoas como: Lucianinho (Hoje Dr. Luciano), o próprio Bernardo, Sandro, Léo e Leozinho, Adriana...
    Saudades imensas dos jogos de vôlei na rua. Era só aparecer alguém com uma bola, seja de vôlei ou futebol, que logo enchia de gente.
    Obrigado pelas lembranças.

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  6. A Bia foi minha segunda catequista, comecei com a Dalva em 1988 e terminei com a Bia em 1989. E sim, tinha o leiteiro, e em frente ao Rocha Bolzan aos domingos tinha a Arca de Noé e muito teatro de fantoche e brincadeira (eu tinha medo do animal).

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