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segunda-feira, 26 de março de 2012

Eu Faço Parte Dessa História!

Já faz alguns anos que eu comecei a encarar a minha cidade, a minha cidade natal com outros olhos. Talvez o fato de não morar lá me faça sempre primeiro enxergar todas as suas qualidades e deixar escondido os seus defeitos. É claro que eu sei que eles continuam alguns até piores de quando eu fui embora, mas, assim como tudo na nossa vida, prefiro valorizar mais as coisas boas.

Talvez também por quando estou lá sou mais turista que habitante. Sou visita! Muitos passeios e risadas... Acalento para o meu coração e combustível para a minha alma. Reencontro com os amigos, convivência com a família, não com os problemas dela.

Com certeza esse imenso mar de razões justificáveis faça hoje eu enxergar Porto Alegre como um paraíso. Não enfrento o trânsito na hora do “rush”; não frequento hospitais e lugares públicos; não reparo no lixo jogado nas paradas de ônibus; não sinto o calor sufocante do verão nem a umidade do inverno. Os meus olhos só captam a luz incandescente do sol que nasce e dorme com a mesma beleza; de um céu azul quase transparente; de parques habitados por alegria; de flores e árvores que me tocam ao passar nas ruas; de um cheiro específico que só sinto quando aterriso no Salgado Filho.

Mesmo assim todas as características marcantes de Porto, as boas e as ruins, continuam  dentro de mim e as carrego para onde quer que eu vá. Seja o gesticular das mãos ao contar uma história; as gírias e a timidez que se confunde com o falar alto. A saudade do churrasco de costela, o chimarrão compartilhado com os amigos. A rivalidade da dupla Gre-Nal; do xis prensado de coração; de contar uns “pilas” para o troco no “super”.

Não sei bem explicar como essa grande cidade, meio provinciana ainda, desperta em mim tantos sintomas. Muito mais que as minhas raízes, sejam talvez as lembranças de tudo que deixei para trás. De ver o shopping Iguatemi dobrar de tamanho; de aprender a segurar o carro na lomba da Lucas; o apogeu da Praça da Encol junto a Nilo; das festas de comemoração na Goethe. Quando criança deslizar de patins no Marinha; andar de xícara no parquinho da Redenção; ouvir meu irmão falar dos barzinhos da Osvaldo. Comer num rodízio de pizza da Cristóvão; bisbilhotar a feirinha hippie de sábado da Rua da Praia.  As baladas na “Croco”, Berlim, Taj Mahal, Santa Mônica, FBI e várias outras. Oktoberfest na Sogipa, passeio de barco, Pôr-do-sol em Ipanema ou no Gasômetro.

São infinitas recordações de uma infância e adolescência que muito mais que marcar, construiu a minha vida adulta. Cenas e lugares que quando eu volto á cidade trazem á tona a alegria de se viver lá. Não me importo mais com o nosso bairrismo e com a nossa grossura. Aprendi a valorizar a nossa cultura e a nossa grande capacidade de sorrir para as pequenas coisas.

Já expliquei para todos os cantos que não vivemos em cima de cavalos e trajados de bombacha. Não somos todas loiras e nem todos os gaúchos saem por aí dizendo “Tchê barbaridade”. Nossas festas não acontecem somente em CTG e sim, além do frio, faz muito calor naquelas bandas. Ah, mais importante que qualquer cômodo da casa, a churrasqueira é indispensável.

Hoje, a minha Porto Alegre ao completar 240 anos está bem diferente daquela que conheci a mais de 30 anos atrás. Não vi como o meu pai o Guaíba ser aterrado, mas presenciei o crescimento das árvores. De ruas ganhando asfalto; de pampas que deram lugar a prédios arranha céu. De comércios que continuaram com a mesma fachada, de outros que fecharam e de novos que surgiram. Escolas, faculdades, teatros, estradas, viadutos e perimetrais.

Ao longo dos anos eu cresci junto com a cidade e mantive aquele mesmo olhar. Em alguns momentos diante as tristezas ele podia estar preto e branco, mas em todos os outros continua multi colorido. Os meus olhos podem por alguns momentos desviar a atenção, ou ser visão em outras terras, mas jamais perde o foco em Poa. É lá que meu coração vibra e chora com a mesma intensidade. É lá em Porto que eu me acho;  que eu falo a minha língua e me sinto em casa. É lá que eu pretendo viver em paz!
Um beijo... Boa semana!

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